segunda-feira, novembro 26, 2007

falando em tofu, apresento o seu primo "do mal" - nattô


já que falei do tofu, por que não falar também de outro derivado de soja que não é tão admirado nem conhecido assim, o nattô. por que "do mal"? o coitadinho não tem culpa de nada. nasceu assim, fedidinho, feinho, nojentinho, mas para quem gosta é a iguaria dos deuses. e olha que não são muitos, não. mesmo no japão, o nattô é mais apreciado pelos que vivem na região a nordeste de tóquio. então, o que é essa "coisinha"?
nattô é a soja fermentada. sim, caros, a soja "estragada", digamos assim. claro que há todo um processo de fermetação próprio. não é deixar a coitadinha estragar assim, ao léu. depois da fermentação adequada, ela fica escura, com um cheiro forte e cheia de babas. ok, ok, não estou querendo desencorajar ninguém a experimentar, mas é a realidade. o nattô é assim mesmo. como se come?
tradicionalmente, o nattô é degustado temperado com um pouco de shoyu, mostarda japonesa (karashi), kastuo bushi (o tal do peixe bonito seco ralado, do qual já falei anteriormente) e cebolinha picadinha. mistura-se tudo para aumentar a baba (que é o que dá o charme no nattô) e coloca-se sobre o arroz japonês quentinho. confesso que só de lembrar já estou salivando... é tudibom!
mas é assim, ou se ama ou se odeia. não tem meio termo. não dá para "suportar" o nattô. quem gosta, adora e quem não gosta, detesta. pragmático assim.
claro que aprendi a gostar do nattô no japão, né? quando ainda morava com meus pais em sampa, o velho fujy adorava a coisinha que eu considerava asquerosa e achava até que ele comia na minha frente de sacanagem. não podia gostar daquilo. ninguém poderia gostar daquilo!
até que fui morar no japão. como passei o primeiro ano em hiroshima, região que não consome nattô por tradição, não tive muito contato com ele. quando me mudei para tsukuba, onde fiz meu mestrado, estava no coração da terra do nattô, a província de ibaraki.
trabalhei durante dois anos em um yakitoriya (barzinho que vende espetinhos de frango) durante a vida de estudante e lá, quando souberam que eu nunca tinha comido nattô, fizeram um teste. prepararam o bichinho de um jeito bem diferente. colocaram dentro de um aguê (tofu frito que fica parecendo um saquinho, quando aberto ao meio), fecharam e assaram. e não é que achei delicioso? a etapa posterior foi comer in natura, da forma tradicional, mas desta vez fiz em casa. realmente tinha gostado mesmo. de verdade.
é super saudável (afinal é soja), alimenta, não engorda, cura ressaca (uêba!) e ainda por cima, é delicioso!
pena que morando em salvador, não encontro essa iguaria. na verdade, achei em um restaurante chamado sukiyaki que é o japonês que mais frequento por aqui por ser bem próximo aos mais tradicionais.
quem vier me visitar de sampa, traga na mala de mão, tá?

ps. esqueci de um detalhe. o nattô é considerado o viagra japonês!

sexta-feira, novembro 23, 2007

tofu


para quem não conhece, o tofu é um "queijo de soja". eu, particularmente, tenho um certo pé atrás em chamá-lo de queijo, mas não deixa de ser. na verdade, esse "pé" deve vir do fato de eu sempre ter comido tofu na culinária japonesa e nunca ter passado pela minha cabeça usá-lo de outra forma que não a tradicional: geladinho com shoyu, gengibre ralado e cebolinha picada (pode ser colocado um pouquinho de katsuo bushi que é feito de lascas de peixe (bonito) seco. claro que na culinária japonesa se come de diversas outras formas, mas jamais imaginei tofu como recheio de pastel integral, misturado a brócolis (que se mostrou delicioso, quebrando o meu preconceito).
assim, aprendi que o tofu poderia ser degustado de diversas outras formas não ortodoxas e dar muito certo. um bifum vegetariano pode ser incrementado com tofu, uma saladinha, ...
muitos dizem que o tofu fica bom com qualquer coisa porque não tem gosto de nada. discordo. sempre adorei tofu e quando fui morar no japão fiquei maravilhada com a variedade de tofu que não temos por aqui. o primeiro que comi, confesso que detestei. foi quando percebi que havia pelo menos dois tipos básicos: momen e kinu. a diferença está no tecido utilizado para coar a soja (momen - algodão e kinu - seda). um é mais fino que o outro resultando em um tofu mais "fino", ou seja, mais leve, cremoso. foi esse que não gostei. me lembrou a consistência de um pudim e achei horroroso. gosto mesmo do tofu rústico, duro. quando encontrei o dito cujo, quase choro de prazer. é muito melhor dos daqui.
agora, a experiência dos deuses que tive foi quando morava em hiroshima. a família do meu pai é de lá e casualmente, são (eram na verdade) fabricantes de tofu. passei um final de semana com eles e tive a oportunidade de provar do melhor tofu da face da terra. para quem não sabe, no japão não se tem o costume de comer pão no café da manhã. o pão é algo totalmente ocidental. lá se come arroz, peixe assado, sopa de missô e afins. foi num desses cafés da manhã tradicionalmente japa que provei a melhor iguaria feita de soja. um tofu feito na hora (imagino que devam ter acordado umas 3 ou 4 da manhã para fazer porque o café foi às 6 horas). um sabor indescritível! era possível comer até sem shoyu, purinho, pelo sabor e aroma da soja. jamais esquecerei deste gosto.
morei em tóquio por vários anos e busquei incansavelmente um tofu que se assemelhasse ao da minha família. pura decepção. cheguei a comprar tofus caríssimos (normalmente, um tofu sai na faixa de U$1,oo ou até menos e comprei os que custavam até U$5,00 para provar), e nada de chegar ao menos perto do que eu esperava.
pena... mais pena ainda é que o meu tiozinho velhinho que era quem tocava a produção, se foi. e não há mais ninguém na família para dar continuidade ao negócio. sinto realmente nunca mais poder degustar desta iguaria. jamais esquecerei seu sabor.

domingo, novembro 18, 2007

centrífuga e afins

ganhei uma centrífuga! o bom da casa nova é isso, ganhamos presentinhos para compor o novo lar. confesso que não se tratava de um gênero de primeira necessidade, mas fiquei um século com a centrífuga da minha sogra enfeitando a minha cozinha. usava para triturar aipim cozido, que forma uma massa bem densa, coisa que o liquidificador não aguenta. e bater feijão fradinho para fazer abará (que só fiz 2 vezes na vida e nunca mais! prefiro comprar pronto, pelo trabalho que dá fazer). nunca me imaginei usando as outras funções do aparelho como picar, ralar, emulsificar (alguém pode me explicar o que ser isso? meu curso de gastronomia só começa em fevereiro...), etc. ah! a centrífuga que ganhei faz até suco de laranja!
bom, resolvi usar para picar temperos. o saldo foi positivo, apesar de que, pela quantidade de ingredientes, o trabalho de montar, desmontar e lavar o equipamento, não compensa.
decidi que só vou usar agora quando tiver que fazer algo em grande quantidade. aí realmente é uma mão na roda.
vi outro dia o jamie oliver no seu programa do gnt fazendo uso do aparelho. e é isso mesmo. vale para grandes quantidades.
pois é... vou me adequando à modernidade. sou de uma geração que o máximo de tecnologia na cozinha era liquidificador e batedeira. vivo até agora sem batadeira. me acostumei a bater clara em neve nas mãos mesmo. um bom exercício. mas confesso que faz falta quando quero fazer chantili. se eu ganhar, não vou desprezar, claro! farei bom uso, obrigada.
outra coisa que não tenho e não sei se me faz falta é um forno de microondas. no japão usava muito, mas era mais uma questão de praticidade. impossível ter um forno elétrico ou à gás lá. problemas de espaço. ou era eu ou era o forno. fiquei com um microondas modernoso, com diversas funções.
mas aqui, não sinto muita falta. talvez um pouco na hora de esquentar comida. economiza panela. um bom forno à gás, um bom fogão (idem) e boas panelas (preciso de mais panelas!!) são o suficiente para comer razoavelmente bem por aqui, pelo menos na minha casa.
até mais!

feijão andu


tenho um pé de feijão em casa. e dos grandes. só não sabia que tipo de feijão era. achava estranho ser uma árvore de médio porte, cheio de vagens, pois achava que pé de feijão era algo pequeno, a poucos palmos do chão. esse pé que tenho é, na verdade, a reencarnação de outro pé que tinha morrido. quando minha casa estava em obras, o pedreiro ao capinar o terreno, arrancou um pé de feijão que já estava morto. no mesmo lugar, nasceu esse. só que cresce tão rápido que antes mesmo de ter um tronco firme já está cheio de galhos, folhas, flores e vagens. aí o tronco não aguenta e o pé fica parecendo planta rasteira. enfim, catei algumas vagens já secas e tirei os feijõezinhos redondos. resolvi perguntar ao rapaz que está capinando o terreno qual o tipo deste feijão e ele me disse que se tratava do andu. já tinha comido, mas confesso que não lembrava da cara dele.
aqui na bahia há uma variedade bem grande de feijões diferentes dos basiquinhos que temos em são paulo (carioquinha, feijão preto...). temos feijão verde, feijão de corda, mangalô, fradinho, e diversos outros que desconheço.
resolvi então preparar o andu. ouvi dizer que tinha que aferventar antes de cozinhar para valer, como o feijão azuki. ah! antes, fiz algo que não fazia séculos: escolher feijão! alguém se lembra que tínhamos que escolher o feijão para cozinhar pq vinha com pedras, areia e coisas que até deus duvidava? pois é... minha infância tmb foi assim, vendo minha mãe escolher feijão e ajudando a fezer o mesmo de vez em quando. e foi o que tive que fazer, escolher o feijão andu para tirar pedrinhas, florizinhas e bichinhos.
uma vez feita a limpeza, passei uma água para tirar o que passou despercebido e aferventei. troquei de água e cozinhei novamente. quando estava quase bom, tirei do fogo, refoguei cebola e alho, piquei uma rodelas de linguiça calabresa, temperei com pimentão, tomate, coentro e cebolinha e cozinhei mais um pouco para dar o gostinho. e não é que ficou uma delícia? o caldo é ralo, não é como o feijão carioquinha, mas é muito saboroso.
e fuçando no google descobri receitas como tutu de feijão com andu. vou tentar fazer e depois passo a receita.
bom estar de volta!
bjs

quarta-feira, novembro 07, 2007

novidades, finalmente!

faltava inspiração, talvez. sinto ter ficado tanto tempo sem dar notícias, mas agora creio ter um ótimo motivo para recomeçar. finalmente resolvi assumir oficialmente meu gosto pela cozinha e entrei em um curso de gastronomia. não um cursinho rápido, mas uma graduação tecnológica. um curso de verdade, de dois anos e meio em uma faculdade daqui de salvador. presetei vestibular e tudo mais que tinha direito. e passei! a partir de fevereiro de 2008, serei graduanda do curso de gastronomia da fib. meu orientador do mestrado não entendeu eu querer fazer graduação nesta altura do campeonato.
enfim, o fato é que estou super feliz e motivada. o que eu quero mesmo é poder dar aulas em cursos de gastronomia e ser crítica gastronômica. acho que nunca é tarde para recomeçar e eu, nos meus 40 anos de vida e experiência, sei muito bem que isso é verdade.
como disse outro dia a um amigo que está lá no país de gales, meu copo está sempre meio cheio. fiquei desempregada pela primeira vez na vida e confesso ter ficado sem chão por um tempo. a sensação é péssima, devo dizer. mas por outro lado foi bom para eu repensar nos rumos que minha vida estava tomando.
agora sei que estou no caminho certo. enquanto o ano não termina, fico às voltas com as disciplinas do mestrado, a corrida contra o tempo para preparar o texto para o exame de qualificação e um outro hobby que descobri (já que a cozinha não vai mais ser um hobby, mas uma opção real de vida), que é a pintura em madeira. na verdade, compro peças de madeira e faço trabalhos de pátina e decupagem. é uma ótima terapia e higiene mental, além de enfeitar minha casa nova (é, estou de casa nova) e em breve, uma fonte de renda, pois pretendo vender alguma coisa para quem quiser lembrancinhas para o natal.
se vira nos 30! e no meu caso, aos 40!
o fim do ano está aí e 2008 promete.
aguarde novas receitas e afins. prometo que serei mais regrada nas minhas postagens.
abraços e beijos a todos.